- Vamos esperar o obreiro e o pastor chegar lá na vendinha?- A Nise perguntou com um ar de festa no olhar.
Mal podíamos por os pés naquele lugar que alguém logo fazia a proposta de irmos na vendinha comer bolo de chocolate. A espatula deslizava naquele enorme bolo quadrado cheio de cobertura e comíamos até enjoar e não aguentar mais. Aquele era um dia especial, era o meu aniversário de 17 anos.
Andávamos por todo o morro, passávamos pelos becos, as vielas, batíamos palmas em frente aos portões:
- Vem senhora participar da oração!
Improvisávamos uma EBI no meio da rua, pois parecia que havia mais crianças do que adultos, fazíamos de tudo para tentar controla-las com uma aulinha bem divertida, mais de 5 em 5 minutos, recebíamos o alerta:
- Psiu!!! Está atrapalhando a reunião!
Fomos embora felizes e tagarelantes, cada uma contando uma história de alguém que ajudou, ou de algo inusitado que alguma criança havia feito. Ou simplesmente relembrando o dia em que a policia estava perseguindo os traficantes e ficamos morrendo de medo.
Quando cheguei em casa todos já estavam dormindo, havia alguns pedaços de pizza frio na mesa. Havia chegado atrasada para a comemoração do meu aniversário, senti um pouco de peso na consciência e pensei.
"Ano que vem eu vou chegar mais cedo."
Quando deitei na cama fiquei pensando em algumas outras coisas que haviamos conversado e fiquei imaginando:
"Será que agora que fiquei mais velha vou poder namorar?"
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Lá vou eu para o colégio com o meu fichário rosa na mão, rabo de cavalo e minha franja de lado, apresento a carteirinha e a inspetora me barra na porta:
- Você já não passou por aqui hoje?
Eu me esforço para ouvi-la no meio de todo aquele barulho que os outros alunos faziam e respondo:
- Não! Não passei, deve ter sido minha amiga.
Era sempre assim na escola, todos me confundiam com a Tami e vice-versa, isso quando não achavam que eramos irmãs, acho que foi a convivência que nos deixou parecidas. Enquanto estávamos no colégio, não nos desgrudávamos, era quase que uma proteção, sabíamos que se estivéssemos juntas, seria mais difícil algum menino mau intencionado aparecer, ou mesmo sermos surpreendida com alguma conversinha não muito legal, a experiência de estudar com uma outra obreira foi tão boa que estávamos pensando seriamente em fazer a mesma faculdade.
- Aqui Tami, eu trouxe!
Eu coloquei em cima da carteira, um grande e pesado volume de folhetos, e livretos explicativos.
- O que é isso?
- São as apresentações que eu peguei em algumas universidades.- Eu respondi.
- Você vai mesmo querer fazer isso?- Ela me perguntou com um ar de desanimo, apoiando o rosto sobre uma das mãos.
Confesso que também sentia um certo desanimo só de pensar no assunto, mas alguém tinha que se animar:
- Já que eu tenho que fazer, vou fazer logo. Assim termino mais rápido.
- Eu não quero estudar mais Ari, eu quero casar.- Era compreensivo ela dizer isso por que ela já estava namorando um auxiliar.
- Eu sei amiga, mais enquanto isso...
- Eu sei, eu sei. A gente precisa aprender o máximo possível, para ser mais usada amanhã na obra de Deus.
- É não dá para ficar parada esperando ir pro altar né?
Minha companheira de sala deu um longo suspiro e começou a folhear os livretos, logo ela se empolgou. Mas e agora para qual instituição ir? Será que escolheríamos o mesmo curso?
Terça que vem tem mais, até lá!