- Uau como seu cabelo cresceu!
Eu dei risada, achei que ela estava falando para me agradar, já que fazer o cabelo crescer para mim sempre foi uma guerra. Comecei a contar para ela sobre o meu dia e resolvi fazer um comentário:
- A senhora precisa ficar boa logo, a gente tem muita coisa para fazer, temos que passear...
- Ah filha... - Ela me respondeu com um ar de riso e carinho. - Deus vai te dar alguém para passear com você.
- Claro que vai, mas eu vou sair com a senhora também de vez em quando né?
Ela suspirou e respondeu com uma voz bem agradável:
- A mamãe vai morar com Jesus.
Ai que vontade de gritar! Eu odiava aquela conversa, já havíamos brigado muito por isso, eu dizia coisas do tipo:
- Mãe a senhora precisa se revoltar!
- Deus não precisa de doença pra levar à senhora.
Porém este dia eu resolvi não falar nada, não queria chatear ela, para não estragar o momento, acho que foi um dos últimos, por que depois disto ela ficou mentalmente distante e eu sentia muito a falta dela.
Embora ela não estivesse bem, ela ficava o tempo todo orando, buscando, chamando o nome de Jesus, certamente aquele foi o momento mais difícil, pois eu não sabia mais o que fazer para ajuda-la. Certa manhã ela estava com falta de ar, eu fiquei cuidando dela, até consegui falar com a minha irmã para ir a casa. Eu sai atrasada para o serviço, correndo feito uma doida, peguei ônibus lotado, esbarrei nas pessoas, atravessei a rua correndo, cheguei na empresa cerca de meia hora atrasada, meio esbaforida e ofegante. Minha chefe estava tão vermelha, e me deu uma bronca daquelas, eu fui para o banheiro orar e chorar. Eu não queria fazer aquilo, eu queria dar bom testemunho, porém era como se tudo estivesse fora do controle...
No domingo à noite, eu estava no andar da EBI quando tive uma ideia, desci de elevador, atravessei o estacionamento por baixo do salão, subi as escadas que dava bem pertinho da porta da sala de campanha, vi o pastor lá, bati na porta e perguntei se poderia falar com ele. Aquele pastor já conhecia todo o caso, pois ele acompanhava minha mãe, de pronto ele veio falar comigo, então eu desabafei:
- Eu tenho feito votos, propósitos, campanhas, oração, jejum. Eu creio que ela pode ser curada, mas eu não sei... Eu não sei mais o que fazer para ajuda-la.
Depois de me ouvir atentamente o pastor me respondeu:
- Esta é sua fé Ariane, mas sua mãe também tem fé. Qual é a fé dela?
Eu senti meu rosto esquentar, a lágrima querendo vir aos meus olhos, tive que respirar fundo para não chorar. Eu sabia exatamente a resposta para aquela pergunta, mas não podia responder, era muito difícil, então eu apenas balancei a cabeça. Ele conversou comigo mais alguns minutos e me perguntou:
- Você tá entendendo?
- Sim senhor. - Eu respondi.
Antes que eu saísse o pastor colocou a mão na minha cabeça e orou por mim, eu voltei para a salinha da EBI em paz. Eu continuei na fé, perseverando, mas aquela preocupação saiu, pois eu sabia que tudo ia dar certo, Deus estava cuidando dela e a vontade Dele ia ser feita.
Ainda aquela semana, na quinta feira enquanto eu trabalhava, eu recebi uma ligação:
- Corre pra cá, vem fica comigo.- Era minha irmã em lágrimas, ela estava no hospital.- A mãe entrou em coma.
Eu dei um pulo da cadeira, peguei minha bolsa e sai correndo. Será que eu chegaria lá a tempo?
Semana que vem eu conto mais,